Os elementos do discernimento: Autoconhecimento
Continuando
a nossa explanação sobre o discernimento a partir o ciclo de catequese do Papa
Francisco, veremos que um elemento fundamental para realizar um autêntico
discernimento é o autoconhecimento, conhecer a si mesmo. Muitas vezes não sabemos
discernir porque não nos conhecemos de modo suficiente, e assim não sabemos o
que realmente queremos. A vida requer respostas, questiona-se sobre o seu
sentido e por falta de elementos essenciais em nossa vida para reconhecer qual
é a nossa sede e onde buscamos sana-la, corremos o sério risco de naufragar nas
margens da vida pois não nos conhecemos bem.
O
maior desafio no caminho de um verdadeiro discernimento é o autoconhecimento,
pois, o processo de discernir abrange a nossa dimensão humana, vontade, afetos
e aptidões, este é o verdadeiro desafio do discernimento, conhecer a nós
mesmos, o que em muitos casos não queremos nos conhecer e acabamos preferindo
no esconder nas mascaras, “Todos temos a tentação de usar máscaras inclusive
diante de nós mesmos”. Esta mascara vem a nós pela nossa abertura à ignorância
a nossa personalidade e aos nossos desejos mais profundos.
Conhecer-se
a si mesmo é um árduo trabalho de escavação interior, de busca intima pela
verdade existencial em nós, um caminho de arrancar mascaras, de conhecer o que
nos move, de conhecer as nossas aspirações e desejos. É o momento de parar e “de
tomar consciência da nossa maneira de agir, dos sentimentos que nos habitam,
dos pensamentos recorrentes que nos condicionam, e muitas vezes sem que
saibamos”, podemos dizer que é o momento de purificação a ponto de perceber e “reconhecer
que a visão que temos de nós próprios e da realidade é às vezes um pouco
deturpada”. Reconhecer isto é um grande valor em nossa vida, pois com tal visão
ocasionada até mesmo por experiencias do passado limitam a nossa liberdade
existencial.
Para
superar esta visão deturpada, adentramos a um caminho de “reconhecer o que é
realmente importante para nós, distinguindo-o das modas do momento ou de
slogans vistosos e superficiais” que nos são diariamente apresentadas pelo
maligno como o sentido de nossa vida, quando na verdade somos conduzidos à
tristeza e à desolação. “Pois o tentador apresenta-nos coisas más
hipnotizando-nos com o fascínio que as mesmas exercem sobre nós: são coisas belas,
mas ilusórias, que no fim nos deixam um sentimento de vazio e tristeza. Só o
Senhor é que nos pode confirmar na avaliação justa que fazemos das coisas.
O
Papa Francisco nos diz que uma ajuda valiosa para o autoconhecimento e para
vencer tudo isto é o exame de consciência geral do dia, o hábito de
reler com calma o que acontece no nosso dia: o que aconteceu no meu coração
neste dia? Quais? Porquê? Quais traços deixaram no coração? “Aprendendo a
observar nas avaliações e escolhas aquilo a que damos mais importância, o que
procuramos e porquê, e o que afinal encontramos”. E sobretudo a busca por
descobrir o que sacia o meu coração, o que sacia a sede existencial de minha
vida. O exame de consciência do dia, “trata-se de ver o percurso dos
sentimentos, das atrações no meu coração durante o dia”, qual o sentimento que
dominou neste dia.
Fonte: Papa Francisco, Audiência Geral, Praça São
Pedro:
Catequeses sobre o discernimento 4. Os elementos do discernimento.
Conhecer-se a si mesmo.
Quarta-feira, 5 de outubro de 2022
Os
elementos do discernimento: O desejo
“O
discernimento é uma forma de busca, e a busca deriva sempre de algo que nos
falta”, faz-se necessário analisar e conhecer o que buscamos e por onde
caminhamos, neste texto analisamos mais um elemento ou mais um passo para o
discernimento: o desejo. O termo, nos diz o Santo Padre, desejo tem origem na
palavra latina “de-sidus”, que significa literalmente “a falta da
estrela”. Nesse contexto, o desejo é percebido como a ausência de um ponto de
referência que orienta a vida, gerando uma carência e uma tensão para alcançar
o bem desejado. O desejo, portanto, funciona como uma bússola que indica a
posição e a direção na jornada da vida, revelando se estamos em movimento ou
estagnados. A ausência de desejo é associada a uma condição estática,
possivelmente indicando uma pessoa doente ou quase morta.
Pensemos
no desejo autêntico do nosso coração, por exemplo a sede, “se não encontramos
algo para beber, não renunciamos; pelo contrário, a busca ocupa cada vez mais
os nossos pensamentos e ações, até nos dispormos a fazer qualquer sacrifício
para a poder saciar”. Assim entendemos que ao contrário da emoção passageira do
momento o desejo perdura no tempo até ser concretizado.
Tomemos
por exemplo desejo de alguém em tornar-se médico, esse anseio exige uma adesão
no caminho de estudos e trabalho, exigindo limites e a recusar outras opções de
vida. Apesar das dificuldades, o desejo de alcançar a meta fortalece e motiva,
proporcionando coragem e perseverança para superar obstáculos, impulsionado
pelo desejo intenso de realizar a aspiração desejada. O
desejo é assim: exige saber o que se quer.
Jesus
frequentemente questiona o desejo das pessoas antes de realizar milagres, como
no caso do paralítico em Betesda. Essa abordagem visa esclarecer resistências à
cura e provocar uma mudança de mentalidade. O exemplo do paralítico destaca a
contradição entre afirmar querer algo e, ao mesmo tempo, buscar a ação
necessária para alcançar esse desejo. “A pergunta de Jesus ‘Queres
ser curado?’ era um convite a esclarecer o seu coração, para acolher um
possível salto de qualidade: deixar de pensar em si próprio e na sua vida de
paralítico”, transportado por outros. Jesus, assim, convida a refletir sobre o
verdadeiro desejo de vida. O paralítico, apesar de lamentar sua situação, não
dá passos concretos para a cura, não faz nada para adquirir a cura.
O
que queres da vida? O que deseja em sua vida? Muitas pessoas sofrem por não
saber o que querem a sua vida, encontram-se sem sentido por não tocarem o
verdadeiro desejo latente em seu coração.
Imaginemos
que Jesus, como fez ao cego de Jericó, se aproxima de nós e pergunta: “Que
desejas ou que queres que faça por ti?” O que responderíamos? “Talvez
finalmente pudéssemos pedir-lhe que nos ajude a conhecer o profundo desejo
d’Ele que o próprio Deus colocou no nosso coração: “Senhor, que eu conheça os
meus desejos, conheça as minhas aspirações, minhas motivações.”
“O
Senhor tem um grande desejo em relação a nós: tornar-nos partícipes da sua plenitude
de vida”, o Senhor tem um desejo e um sonho em nós, Ele tem um projeto e conta
conosco, “Senhor completa em mim a obra começada” (Sl 137, 8).
Fonte:
Papa Francisco, Audiência Geral, Praça São Pedro:
Catequeses sobre o
discernimento 5. Os elementos do discernimento. O desejo
Quarta-feira,
12 de outubro de 2022
Sem. Mário Eduardo Vidal